Quadrilha não é mais uma dança da corte, muito menos uma dança de salão. No Brasil a quadrilha junina se transformou num folguedo. Se concordarmos com esse conceito, teremos que admitir que esta deve ter um conjunto de elementos que a caracterize como tal. Esses elementos é que nos levam a dizer: isso é uma quadrilha. Caso contrário não estaríamos aqui a tratar do mesmo assunto. Eu poderia está falando de quadrilha junina e alguém interpretando como se tratássemos de um balé popular, ou algo parecido com o que vem sendo praticado por certos grupos, ligeiramente inspirados nessa manifestação popular que nos é tão cara. Bom, se estamos lidando com um folguedo, então os três elementos que caracterizam esta tradição devem está postos: o teatro, a música e a dança. Esses elementos devem se guiar por outros ainda mais subjetivos. Tais como linguagens, signos, símbolos, gostos e outros elementos da nossa cultura.
Porém, quadrilha junina antes de ser um folguedo é uma brincadeira. Não é preciso afirmar que enquanto brincadeira está ligada à criatividade. Aliás, a quadrilha tal como concebemos na atualidade é um jogo coletivo extremamente criativo. Nesse sentido a liberdade de criação deve ser a tônica desse processo. No entanto, o processo de criação deve respeitar os elementos do folguedo e da tradição de cada região. Se isso não ocorre teremos a figura do estranhamento negativo. O nosso povo, a quem se destina a nossa obra de arte coletiva, não vai se reconhecer. Nesse sentido tanto faz ter um tema como não tê-lo, importante é ter uma identidade própria. Construir uma combinação tal dos elementos do folguedo que caracterizem o grupo, de tal forma que o público possa dizer: -eu conheço essa quadrilha!
Com o advento dos festivais competitivos vieram as idéias de explorar um tema. Talvez esteja ligado a influência das escolas de samba do Rio em nosso São João. Dito isto, concluímos que não precisamos dessa correria atrás de tema. Isso já virou uma esquizofrenia.Todo ano é aquele desespero...Que tema vamos abordar? Nesse sentido, o fazer quadrilha, está relacionado à busca pela felicidade. A competição é apenas um detalhe. Ganhar um festival, sem fraudes ou apadrinhamentos, é apenas consequência do reconhecimento popular. Se alguém quer insistir na tematização das quadrilhas, que insista. Mas, ninguém é obrigado a nada. Quem disse que quadrilha junina tem que ter um tema? O folguedo não tem necessariamente que ter um tema. E ponto final.
ISPIANDO - Esse texto foi enviado para compor a sinopse do tema da Quadrilha Arraiá do Gipão de 2010, no Anuário Fequajuce. Não sei quem é o autor, por isso postei da maneira que me foi enviado. Mas identificações a parte, gostaria de dizer que é muito interessante do ponto de vista de colocar a Quadrilha Junina como um folguedo. E também, se analisarmos semioticamente a postura de um grupo quase "quarentão" tratar de algo assim com tanto desprendimento, é de total louvor.
Tendo em vista os dias de hoje, só não concordo com uma coisa que está lá: "A competição é um detalhe". Apesar de acharmos que não é tudo, também acreditamos que de maneira nenhuma é um detalhe. Afinal de contas, chegamos aonde chegamos por causa das competições, descobrimos que existem Quadrilhas em outros estados por causa das competições. Não sei se isso foi bom ou ruim, apenas sei que foi fundamentais em nossas vidas quadrilheiras.